Capítulo 3: Separação
Parte 2: A casa sem barricadas
- Escutou alguma coisa no rádio Ursinho?
- Ainda não, estão demorando mais do que eu gostaria.
- Quer que eu faça alguma coisa?
- Acho melhor já começar a se arrumar para quando eles falarem a localização a gente não perder tempo.
- Ok Ursinho, vou começar a arrumar as coisas.
- Eu já arrumei as minhas, então vou colocar o rádio de volta no carro e te esperar, ok?
- Ok! - Alice começou a se arrumar, ajeitar as panelas, talheres e embalar a comida que havia sobrado. Também aproveitou para pegar as plantas que estavam na pequena horta, afinal, talvez eles não voltassem para lá.
Depois se vestiu, colocou o coldre e a arma nele.
Ela conseguia ver Davi no carro olhando para o rádio. Ficava triste de ter que fazê-lo esperar, já que ainda teria que embalar todos os seus utensílios de química. Mas aquilo era de extrema importância e não poderia ser apressado, se um becker, frasco ou balão quebrasse, talvez eles nunca encontrariam outro para repor o perdido.
Quando estava embalando a última caixa escutou o barulho do motor lingando. Alice não queria acreditar, correu para a porta da frente e viu o carro se afastando.
- Porra Davi! - Gritou do fundo de seus pulmões - Você disse que a gente ia junto! Que não ia me deixar sozinha!
Alice só podia ver o carro se afastando. Ela sentou na entrada da porta, triste, mas também preocupada. O que teria feito Davi quebrar a sua palavra? Fazer ele mudar de ideia tão rápido?
Depois de um tempo sem conseguir responder a essa pergunta, ela se levantou, andou um pouco pela casa e aceitou que não poderia fazer nada quanto aquilo, mas uma coisa ela sabia, Davi faria de tudo para voltar o mais rápido possível. Naquela tarde mesmo ele poderia estar de volta.
Era melhor ela estar preparada para quando ele voltar. Depois de conseguir os comprimidos, ele precisaria de seu remédio, e do jeito que ele é, iria se machucar para consegui-lo.
Ela desembalou todo o seu equipamento de química. Colocou tudo novamente no lugar, para poder voltar a sintetizar novos produtos. Primeiro ela produziu o remédio dele, que Alice demorou muito tempo para conseguir criá-lo. Os líderes da maioria dos países estavam com tanto medo da infecção, que nem tentaram capturar um infectado para desenvolver um remédio direito, então ela teve que fazer toda a pesquisa sozinha após a contaminação chegar no país.
Agora o remédio de Davi já havia se aperfeiçoado, não criava dependência, ou qualquer outro efeito colateral. Pelo menos nenhum visível.
Alice se preparou, colocando uma roupa branca de mangas comprimidas, uma máscara de gás e luvas, que ela sempre reutilizava.
Depois de produzir 2 frascos para Davi, ela aproveitou que estava ali para começar a sintetizar produtos que estavam acabando.
Alice sabia que logo o sabão iria acabar, então fez eletrólise, com uma pequena bateria, no sal de cozinha em meio aquoso. Era demorado, mas o suficiente para produzir soda cáustica, que seria necessário para a produção do sabão.
Com os gases de cloro e hidrogênio produzidos na eletrólise, ela iria utilizá-los futuramente para a produção de ácido clorídrico, porém sem equipamentos necessários para a manipulação de gases, Alice só poderia armazená-los. Então ela os colocou em um pequeno cilindro de gás, onde sempre armazenava esses dois elementos.
Ela sabe o quanto de cuidado é necessário para a manipulação e produção desses produtos químicos, mas ela já havia mexido com isso muitas vezes. Nunca deixaria Davi tentar produzir qualquer uma dessas coisas, pois sabia dos danos que aquilo poderia causar a ele.
Voltando para a soda cáustica produzida na eletrólise, Alice utiliza óleo vegetal e faz os processos necessários para a produção de sabão.
Depois da produção de todos esses componentes e produtos, Alice ficou pensando em o que eles fariam quando ele voltasse. Saíram tão rápido da última comunidade que nem conversaram direito para onde iriam, apenas que precisavam pegar mais de seu comprimido.
Imaginou em tentar achar outra comunidade, mas Davi nunca gostou daquilo, sempre dizia que acabava se envolvendo em coisas que não queria.
Podiam ficar naquela cabana, afinal tinham tudo que precisavam, poderiam plantar para terem comida, a água já vinha da nascente. Não precisavam se preocupar com animais infectados e estavam longe de qualquer cidade para serem incomodados. O maior problema é que para terem eletricidade precisariam de gasolina, então teriam que ficar indo em cidades para consegui-la.
Mesmo assim a cabana era uma excelente opção, então decidida Alice começou a arrumar a casinha, não para ficar uns dias, mas sim para poder morar lá.
Começou a replantar algumas das plantas, mas por mais que ali tivesse bastante diversidade, precisariam também de mais quantidade, aquilo não daria para duas pessoas por muito tempo. Então quando ele chegasse precisaria ajudá-la a aumentar a pequena horta.
Quando estava chegando o final da tarde Alice sentou na porta da casa para esperar por ele. Ficou lá por um bom tempo, mas nenhum sinal de seu amado. Talvez ele se deparou com algum problema, mas uma coisa era certa, nunca que Davi deixaria de entregar o remédio dela a tempo.
Ela não estava se importando com o remédio, afinal não precisava tanto assim dos comprimidos, a única coisa que importava era seu amado voltar em segurança para casa.
Alice continuou a se ocupar, dentro de casa começou a ajeitar os móveis, aquela era sua casa agora, não um local de guerra, então esses móveis não eram mais barricadas, e sim uma pequena parte de sua moradia.
Nessa mudança de ambiente ela foi reparando em como a casa precisaria de melhorias, a cabana necessitava de novas janelas, um novo piso e com certeza novos móveis. Na manhã seguinte Alice poderia cortar mais madeira para que Davi concertasse tudo isso.
No meio dessa verificação ela percebeu que haviam pisos soltos. Aquele era o compartimento de alguém para guardar suas bebidas. Havia muitas garrafas, dezenas delas.
Alice teve uma ideia, com toda aquela bebida ela conseguiria produzir etanol, que, com algumas modificações feitas por Davi, poderia abastecer o gerador a gasolina.
Modificar o gerador para receber etanol ao invés de gasolina seria um trabalho tranquilo para seu amado, e com o gerador modificado eles não precisariam se preocupar com ter que ficar indo para cidades com a intenção de abastecer a energia elétrica de sua nova casa.
Como a noite já havia chegado, Alice aproveitou para já produzir o etanol, fazendo a destilação das bebidas encontradas no piso.
Mesmo com uma produção lenta, Davi ainda não havia chegado, então ela continuou a se ocupar com o que podia.
Depois de fazer tudo que poderia ser feito na casa, ela não queria olhar para o relógio, pois sabia que o horário do remédio já havia chegado, mas nenhum sinal dele.
Como era planejado os dois saírem da casa, não havia muita comida pronta, apenas o suficiente para ela jantar. Alice ficou triste de não poder compartilhar o pouco que tinha com seu amado, mas no dia seguinte ela poderia cozinhar mais.
Algumas horas depois ela retirou o colchonete que havia arrumado em sua mochila e o colocou no chão, mas não conseguiu nem deitar nele, estava com medo de acordar no próximo dia e Davi não estar ao seu lado.
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