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Capítulo 3: Separação

Parte 5: Sua pior realidade

Quando Alice acordou, se sentia exausta, como se quase não tivesse dormido. Sua única vontade era voltar pra onde estava, mas que lugar era esse? Ela não havia sonhado com nada, mas sentia que lá era um lugar melhor do que aqui.

Se enrolou novamente nas cobertas, tapou seu rosto e voltou a dormir.

Ela abriu seus olhos novamente, seu sono havia ido embora, mas o cansaço ainda a acompanhava. Continuou deitada, sem forças para levantar, seu corpo parecia pesado. Tentou se manter ali pelo máximo de tempo que pôde, mas a dor em seu estômago proveniente da fome não permitiu que ela continuasse assim.

Após finalmente conseguir se levantar foi em direção à cozinha, onde sempre deixava a comida pronta, mas nada havia sobrado e ela ainda teria que fazer cada parte de uma refeição.

O problema não seria cozinhar um arroz ou legume, mas parecia que todo o trabalho de cortar a madeira, limpar o fogão e fazer cada um dos complementos da refeição seria muito desgastante. Então andou até a caixa onde havia guardado o cultivo da horta e pegou uma maçã, a lavou e comeu.

Apenas isso não seria suficiente para sustentar Alice pelo dia, mas era tudo que ela precisava para fazer a fome passar.

Ela se arrastou de volta para a cama e se envolveu para o confortável e caloroso abraço de suas cobertas. Era ali que Alice conseguia amenizar aquela estranha sensação que havia em seu peito, como se tivesse uma mão apertando com força seu coração, o fazendo bater forte, mas ao mesmo tempo devagar.

Além de suas cobertas, existia um estranho conforto na luz da tarde que vinha por entre as frestas das janelas. Assim a sensação ruim em seu peito foi passando e finalmente ela conseguiu descansar o suficiente para dormir mais um pouco.

Alice despertou com um frio cortando por entre as cobertas. Aquela luz fraca que vinha de fora, agora se tornou um completo breu. Ela não fazia ideia de quanto tempo já havia se passado, mas com certeza já havia anoitecido.

Ela se levantou e começou a mexer em sua mochila, procurando mais roupas para poder se agasalhar. Ao fundo podia ouvir um estranho barulho, como folhas sendo amassadas.

Alice parou um momento para entender melhor o que estava escutando, até que começou a escutar um barulho de carro ao fundo. Foi correndo para a janela tentar ver o que era.

Por entre as frestas da janela era possível ver um homem, mas Alice não o conhecia, ele estava segurando uma arma e indo em direção a porta da frente, que permanecia barricada por apenas uma estante.

Ela correu para a sua mochila, pegou a pistola e começou a empurrar uma mesa em direção a porta.

- Sai daqui! - Gritou Alice - Eu vou atirar!

- Calma - O homem foi interrompido.

- Sai!!!

O homem começou a bater no armário, tentando o derrubar.

Alice atira em direção a porta e o armário para.

Não havia mais nenhum sinal do homem.

Ela foi em direção a uma das janelas tentando descobrir o que havia ocorrido com ele. Quando ela se aproximou, a janela foi quebrada, a empurrando para trás.

Quando Alice viu, o homem já havia entrado dentro da casa, então, com suas mãos tremendo, ela começou a disparar a arma em sua direção, mas nada o fazia parar.

Ele chegou diante dela e agarrou seus braços. Alice tentou lutar, mas aquele homem era muito forte, quanto mais ela tentava se libertar, mais força ele fazia, machucando cada vez mais seus pulsos.

Independente do que ela tentasse, já era tarde demais, ela temia o que aquele homem iria fazer com ela.

O homem forçava cada vez mais o rosto de Alice para perto do dele.

- Olha pra mim.

Sem poder fazer mais nada, a única coisa que ela tentava era manter suas pernas fechadas.

- Olha!

Com seus olhos cheios de lágrimas Alice olhou para o homem. E finalmente o reconheceu.

- Tá tudo bem Amor, eu estou aqui.

Alice o abraçou com toda a força que tinha.

- Davi!

Suas mãos estavam molhadas, mas aquilo não tinha importância, afinal, seu amado havia voltado.

- Amor, você precisa tomar o seu remédio, acho que dessa vez terá que ser uma dose dupla.

- Claro Davi, claro.

- Eu também te amo Amor, mas eu preciso que você me solte para eu pegar o remédio que está lá no carro.

- Podemos ficar assim só mais um pouco?

- Claro Amor.

Davi a abraçou de tal forma que não havia conforto ou calor que pudessem se igualar a aquele momento.

- Obrigado Davi, acho que estou melhor. - Disse Alice, se soltando daquele abraço gostoso, mas que logo voltaria.

Davi segurou em sua mão e a foi conduzindo até o carro, onde pegou sua mochila e a entregou dois comprimidos.

O remédio nunca teve gosto, mas dessa vez era como se ele fosse feito de sangue.

- Que remédio é esse?

- O seu. O que você sempre toma.

Alice voltou para dentro de casa e ascendeu uma vela, finalmente alguma iluminação. Suas mãos estavam cheias de sangue, mas Alice não havia se machucado.

Quando olhou para Davi, que estava começando a sentar no chão, viu o que havia feito. Ele estava em sangue puro. Além de vários machucados pelo corpo, ainda tinham furos de balas pelos seus braços e ombros.

- Davi! - Alice correu para seu amado. - Me desculpa, me perdoa, eu não queria...

- Tudo bem Amor, eu sei. Você não fez nada de errado. - Disse Davi, dando um beijo em sua testa. - Mas agora eu preciso que você respire e me ajude com isso. - Falou, mostrando o kit de primeiros socorros que ele estava em mãos.

Alice respirou fundo, pegou o kit e voltou a costurar Davi, como ela sempre fazia, mas aqueles machucados não eram de criaturas nem mercenários, aquelas cicatrizes seriam marcas da dor que ela havia causado em seu amado.

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